Amarras

    Recentemente, criei um miniblog chamado Fluxo, cuja proposta é a de expor meus textos menos comprometidos com a racionalidade crua, mais afeitos a formas artísticas de escrita e principalmente mais pessoais. No entanto, após escrever um pouco lá, fui acometido pela percepção de meus motivos implícitos. Pense comigo: se tive a necessidade de separar aqueles textos dos que costumo postar aqui no Meu mundo, minhas palavras, significa que, por algum motivo, não me sentia confortável em escrever em meu blog principal textos que não fossem estritamente lógicos ou formais. Com efeito, a tendência que fui criando sem perceber foi a de uma certa impessoalização deste espaço, quase furtando-lhe de si mesmo. É bem verdade que já há alguns anos venho postando esporadicamente prosas poéticas aqui, mas devo admitir que considero todas elas muito mornas e tímidas, quase como se estivessem constrangidas pela possibilidade de não serem compreendidas pelo público. Talvez por isso, ou mesmo talvez pela falta de maturidade textual, meus escritos mais antigos sejam tão carregados de uma roupagem de pretensa formalidade. Não falo de uma formalidade como a que permeia estas palavras de agora, que se dão mais como um verniz espontâneo do que como uma obrigação prática, mas uma formalidade que amordaça, que aprisiona.
    Este é, portanto, o primeiro passo para fora das grades que acabo de romper. Isso não significa que os próximos textos serão todos de ordem pessoal e descontraída, necessariamente; significa, justamente ao contrário, que tentarei evitar padrões textuais que enclausurem minha liberdade de escrita. Não pretendo tampouco interromper o Fluxo; continuarei alimentando-o com ideias que venham a surgir de minhas constantes tempestades mentais; porém, este blog principal também será palco eventual para esses pensamentos, sobretudo os que tiverem uma coesão semelhante a monólogos. Daqui em diante, não me pautarei por uma inércia que por tanto tempo me calou.