Homossexualidade — uma analogia com o canhotismo no oriente

     Se tem um assunto que é atualmente discutido em todos os veículos de comunicação é certamente o casamento gay. Esses debates sempre estiveram presentes na sociedade, entretanto, houve um notável crescimento ao destaque dado a este tema, já que o século XXI trouxe consigo uma enorme onda de informações — a internet —, e com isso, a liberdade de expressão ganhou força.
     Porém, para podermos analisar um assunto de um ponto de vista imparcial, é necessário nos desprendermos de nossos preceitos e de nossos conceitos pré-concebidos. Ora, não há maneira melhor de fazer isso senão usando uma analogia com um tema de cunho semelhante, mas um que nossos preconceitos não possam interferir na análise. Que tal sairmos um pouco do contexto ocidental e posicionarmos nossas mentes no oriente?
     Assim como na maioria dos países islâmicos, na Índia existe uma crença de que a mão direita é do bem, e de que a esquerda é do mal. Isso pode ser evidenciado simplesmente notando expressões que se popularizaram no mundo todo, como a de “acordar com o pé esquerdo”; e na maioria dos dicionários, inclusive nos da língua portuguesa, a palavra “canhoto” comporta também as definições de “desastrado”, “inábil” e até mesmo de “uma referência ao Demônio”.
     Pois bem. Nessas regiões, as pessoas canhotas são vistas por maus olhos — ou melhor, por péssimos olhos —, pois de acordo com a premissa popular, ser canhoto vai contra os princípios morais e religiosos. Na realidade, eles são sempre os últimos a comerem, muitas vezes tendo como refeição somente o que sobra, pois para as pessoas “normais” (destros), ter a comida tocada por um canhoto — mesmo que seja com a mão direita —, é uma ofensa. E como se já não bastasse tamanho sofrimento, existem vários relatos de pessoas que foram expulsas de casa, simplesmente por serem canhotas.
     Diante dessas condições discriminatórias, é realmente normal encontrarmos muitos “ex-canhotos”, que dizem ter se arrependido do pecado, e que agora são destros. Se foi realmente isso o que aconteceu, não tem como sabermos; na verdade, ficamos à mercê do nosso raciocínio: será que eles realmente se tornaram destros ou fingem tal ato?
     Outro detalhe importante que corrobora com esta analogia é o argumento muito encontrado na população indiana, sobre serem contra o casamento entre pessoas canhotas, com a justificativa de que “os pais irão incentivar as crianças a serem canhotas também”.
     A semelhança entre os conflitos Índia/canhotismo e Brasil/homossexualidade é imensa, até mesmo na questão de ser uma escolha ou não. De qualquer modo, tanto no caso dos canhotos quanto no dos gays, é de crucial importância assegurar os direitos dessas pessoas, pois elas são tão cidadãs quanto qualquer heterossexual ou destro. O Estado não pode, de forma alguma, ceder à pressão popular e muito menos deixar preceitos religiosos sobreporem os direitos de cada um. É dever do Governo ser extremamente imparcial e distinguir o casamento civil do casamento matrimonial religioso. Contudo, também é bom enfatizar que as religiões devem ter liberdade de expressão garantida — desde que, é claro, não discriminem e/ou diminuam ninguém.
     E por último, mas não menos importante, seria interessante ratificar que, do mesmo modo que você não precisa ser mulher para defender o direito das mulheres, nem ser negro para defender o direito dos negros, e nem ser canhoto para defender o direito dos canhotos, você também não precisa ser gay para defender o direito dos gays. É possível notar que cada vez mais, as pessoas estão abrindo suas mentes e se tornando mais liberais. Coisas simples como essa representam a progressão do Brasil, onde antes havia uma pseudo-democracia, que algumas pessoas tinham mais direitos que outras, e agora um país verdadeiramente democrático.


A realidade oriental retratada no texto vem mudando ao longo dos anos, tendo se tornado bem mais liberal no Século XXI. Ainda assim, a análise é válida. Afinal, os canhotos foram discriminados por muitos séculos, assim como os homossexuais são no Brasil.
Tirinha que satiriza o argumento da "destruição do casamento"