RESENHA: Avatar: A Lenda de Aang/Korra

     Antes de começar a resenha, considero necessário ressaltar algumas coisas. Em primeiro lugar, é extremamente importante que o leitor saiba diferenciar a série animada Avatar: A Lenda de Aang da fracassada tentativa de criar um filme (intitulado como apenas O Último Mestre do Ar) baseado na história. Esta resenha diz respeito ao primeiro item, o desenho de três temporadas (de 2005 a 2008) e à sua continuação, Avatar: A Lenda de Korra (lançada em 2010). Caso você tenha assistido ao filme, não o considere como base para este texto.
     Outra coisa essencial: minha intenção definitivamente não é tentar abrir os olhos de quem se recusa a enxergar. Independente de você já conhecer a série ou não, é importante abrir a mente e reconhecer que o conteúdo de uma história não é prejudicado pela plataforma em que ela se encontra. Podemos pegar como exemplo a saga Star Wars, que é inteira composta por filmes e por HQ: mesmo sem o uso de livros para descrever a história, ela continua sendo uma das obras mais famigeradas da humanidade. Portanto, caso você já esteja predisposto a desmerecer a série Avatar por ela ser um "mero desenho" (note as aspas!), pare de ler aqui.

A Lenda de Aang
    Avatar: A Lenda de Aang (abreviado como A:TLA, do inglês Avatar: The Legend of Aang) estreou na Nickelodeon em fevereiro de 2005. Com três temporadas (cada uma com uma média de 20 episódios de 20 minutos cada um), a saga foi produzida até 2008, conquistando, nesses três anos, uma audiência além das expectativas e muitos prêmios e nomeações. Das 15 indicações aos mais diversos prêmios televisivos, Avatar: A Lenda de Aang venceu 10.[1]

Tribo da Água do Norte, Reino da Terra, Nação do Fogo e Templo dos Nômades do Ar do Leste do Norte

     A saga conta a história de um mundo onde a humanidade é dividida entre as pessoas das Tribos da Água, do Reino da Terra, da Nação do Fogo e dos Templos dos Nômades do Ar. Cada grupo conta com suas próprias características culturais, sociais e econômicas. Dentro de cada nação, existem pessoas capazes de controlar um dos quatro elementos da natureza (respectivamente: água, terra, fogo e ar). Essa manipulação é intitulada no desenho como dominação ou dobra, e é de extrema importância para a harmonia da civilização. Além disso, cada uma dessas dominações é baseada em um estilo próprio de artes marciais (T'ai chi ch'uan, Hung Ga, Northern Shaolin e Baguazhang).[2]
     A Tribo da Água pode ser dividida em Tribo do Norte e Tribo do Sul, uma em cada polo do planeta. Talvez por terem as mesmas diretrizes de origem, existem muitas semelhanças entre as duas tribos (tanto no aspecto político quanto econômico); porém, como são distantes uma da outra, existem também diversas diferenças entre suas tradições e seus metodologias de dobra de água. E, embora essas sejam as principais divisões dos dominadores de água, há algumas civilizações pequenas e pouco conhecidas de dominadores do elemento, como minúsculas sociedades presentes em alguns pântanos.
     Já o Reino da Terra, como o próprio nome ("Reino" da Terra) sugere, compreende um imenso território. Provavelmente por ser um lugar mais rústico, toda a sua infra-estrutura segue um padrão muito semelhante ao feudal. Sua política é composta por várias cidades (que desempenham o papel de sub-reinos), umas maiores que outras. Inclusive, a questão social e principalmente econômica entra aí, pois existem fortes discrepâncias entre esses sub-reinos. Ba-Sing-Se, por exemplo, seria como a grande São Paulo: população muito alta e monstruosos índices de desigualdade social; só que tudo isso sob o aspecto medieval do Reino da Terra.
     E é claro, não podemos nos esquecer da poderosa Nação do Fogo. Aproveitando a comparação de Ba-Sing-Se com São Paulo, eu diria que a Nação do Fogo seria equivalente aos Estados Unidos dos dias de hoje. Das quatro nações, é a melhor em quesitos econômicos. Exala prepotência e muitas vezes sobrepõe o direito das outras nações em razão de seus interesses próprios. Em alguns aspectos, porém, a Nação do Fogo se assemelha muito à Inglaterra há alguns anos atrás. Não só seu modelo político é imperial — com a família real e o trono do Senhor do Fogo (que é passado de pai para filho) —, mas também sua natureza tecnológica: a Nação do Fogo é o berço da industrialização no desenho e, além disso, sempre está à frente das outras nações em questões bélicas.
     E por último, os Nômades do Ar, que são em divididos em quatro templos: o Templo do Norte, o do Sul, o do Leste e o do Oeste. Assim como as diferentes Tribos da Água, cada templo possui suas particularidades, apesar de partilharem muitas crenças e tradições. O sistema político é pouco desenvolvido, se comparado com o das outras nações. A civilização é praticamente formada por monges, sendo dois templos formados exclusivamente por pessoas do sexo masculino (Norte e Sul) e outros dois templos por pessoas do sexo feminino (Leste e Oeste). Os nômades do ar são muito pacíficos e não possuem organização militar, ao contrário das outras nações. Para se defenderem de possíveis ataques, os quatro templos se localizam em lugares extremamente difíceis de serem alcançados sem a dobra de ar (três dos templos ficam em montanhas muito altas e um fica "grudado de ponta-cabeça" em um despenhadeiro).
    Infelizmente, isso é quase tudo que sabemos sobre os nômades do ar. O motivo? É aí que vem a história.
Água. Terra. Fogo. Ar. Há muito tempo, as nações viviam em paz e harmonia. E aí, tudo isso mudou, quando a Nação do Fogo atacou. Só o Avatar domina os quatro elementos e pode impedi-los. Mas quando o mundo mais precisa dele, ele desaparece. Cem anos se passaram, e meu irmão e eu descobrimos o novo Avatar, um garoto dominador de ar. E embora sua habilidade com o ar seja ótima, ele tem muito o que aprender antes que possa dizer "Eu sou Aang". Mas eu acredito que o Aang possa salvar o mundo.

(Narração da personagem Katara na abertura de cada episódio)
     Logo no primeiro episódio, ocorre algo que desencadeia toda uma série de acontecimentos. Dois irmãos da Tribo da Água (do Sul), um menino e uma menina, estão andando pelo mar parcialmente congelado até que se deparam com um misterioso iceberg. Ao tocar no objeto, Katara, a futura co-protagonista, acaba acidentalmente descongelando Aang, um dobrador de ar de doze anos de idade. Com o decorrer do episódio, ele descobre que estivera preso no bloco de gelo por cem anos, e que, durante esse tempo, a Nação do Fogo atacou e criou uma guerra visando dominar as outras nações.
    E não para por aí. Caso você, leitor, não saiba, o Avatar (do dicionário "uma entidade sagrada que desce à Terra materializado em um humano") é o único capaz de dominar os quatro elementos, e é ele o responsável por trazer equilíbrio ao mundo. Funciona assim: quando o Avatar morre, seu espírito reencarna em alguém da próxima nação da lista (a ordem é terra, fogo, ar e água, elementos que correspondem respectivamente à primavera, ao verão, ao outono e ao inverno). Esse ciclo de reencarnação só é quebrado se ele for morto no estado Avatar — mecanismo espiritual de defesa que só ocorre em situações críticas no qual o Avatar recebe, temporariamente, a sabedoria e o poder de todas as suas vidas passadas —, pois, por estar em seu ponto mais poderoso, está também em seu ponto mais vulnerável.
     Uma vez que o Avatar é o único capaz de dominar os quatro elementos, seu dever é viajar pelo mundo e assim encontrar um mestre de cada elemento para aprender e aperfeiçoar suas habilidades. Ao longo das eras, as diversas reencarnações do Avatar mantêm a harmonia no mundo.
     Onde o menino de doze anos entra nessa história? Bom, como a própria narração de abertura do desenho explica, Aang é o novo Avatar. Infelizmente, ele estivera preso num iceberg, e agora, cem anos depois de muitas mortes, o garoto precisa cumprir sua missão como Avatar e aprender os outros três elementos (fora seu elemento nativo, o ar) e impedir que a Nação do Fogo continue cometendo as atrocidades realizadas no último século.
     No entanto, as coisas ficam ainda mais complicadas com o decorrer dos episódios. Você vai descobrindo que, na realidade, assim que o Avatar Roku — antecessor de Aang — morreu, a Nação do Fogo, sabendo que pela linhagem o próximo Avatar nasceria nos templos dos Nômades do Ar, organizou um ataque surpresa (fazendo o uso de suas máquinas possantes para chegar até as difíceis localizações geográficas) e exterminou todos os dobradores de ar do planeta. O problema, porém, foi que Aang não estava presente durante o ataque. Devido a diversos problemas que o garoto sofria pela enorme responsabilidade (de ser Avatar) sobre seus ombros, fugiu do Templo do Ar do Sul. Durante a fuga, houve uma tempestade muito forte e ele afundou no mar. Prestes a se afogar, o estado Avatar foi ativado e ele inconscientemente criou uma "bolha de gelo" para sobreviver.
     Contudo, por mais que a Nação do Fogo não tenha sido impedida pelo Avatar durante esses cem anos, ela suspeita que não tenha o matado, uma vez que não encontrou qualquer dominador de ar com habilidades fora do normal. Portanto, qualquer sinal de dobra de ar é suficiente para revelar Aang. E dominar o ar não é só perigoso perto de dobradores de fogo, mas também das outras pessoas no geral, pois muitas delas nutrem uma certa mágoa por Aang ter supostamente abandonado a humanidade quando mais precisavam dele. Os riscos só pioram quando Zuko, filho do Senhor do Fogo, parte em busca de capturar o Avatar. Mas vou chegar lá. Antes, preciso falar um pouco das personagens principais.

Fan-art de Aang e Momo, seu lêmure voador

     Evidentemente, Aang é o protagonista. Talvez por ter sido criado entre os monges, é o personagem mais inocente da série. É sempre muito gentil, e às vezes isso se torna seu ponto fraco na hora de enfrentar o inimigo. Na verdade, é tão bondoso que algumas pessoas chegam a criticar a solidificação da personalidade de Aang. Mas é importante lembrar que o menino só tem doze anos (tecnicamente falando), e que o lugar em que ele cresceu fez com que adquirisse um temperamento bastante pacífico.
     Entretanto, um grande encargo lhe foi atribuído desde cedo: já quando criança, ele foi identificado como o novo Avatar e isso o privou de ter uma infância comum. Era excluído das brincadeiras dos amigos por ser o Avatar e representar uma vantagem injusta ao time do qual ele participasse. Mesmo assim, Mestre Gyatso (seu mentor e guardião) ia contra algumas ordens do Conselho de Monges, pois acreditava que Aang também merecia ter uma infância normal. Sendo assim, junto aos treinamentos de dominação do ar, o monge proporcionava ao jovem Avatar vários jogos e brincadeiras, tornando-se assim uma certa figura paterna. O problema foi quando Aang ouviu, escondido, os outros monges decidindo separá-lo de Gyatso, enviando-no para o terminar o treinamento de dobra de ar no Templo dos Nômades do Ar do Leste. Foi aí que ele, confuso e revoltado, e decidiu fugir.

Fan-art de Katara e seu irmão, Sokka

     A menina que encontrou Aang no iceberg se chama Katara, e seu irmão, Sokka. Sendo a última dobradora de água da praticamente arruinada Tribo da Água do Sul, Katara também carrega grandes responsabilidades. Ela e seu irmão decidem, com dificuldade, deixar a tribo e acompanhar Aang, na esperança de poder ajudar o garoto a salvar o mundo. A princípio, essa decisão pode parecer precipitada, mas a história por si própria vai mostrando que ambos, tanto a menina quanto o menino, possuem fortes ligações com a guerra e profundas cicatrizes causadas por esta. Katara perdeu quem mais amava, sua mãe, que se ofereceu à Nação do Fogo em troca de que não levassem a filha; e Sokka perdeu seu pai, que foi batalhar e nunca mais voltou. Cada um mantém uma grande esperança: ela, de ir até a poderosa Tribo da Água do Norte e aprender dominação da água com verdadeiros mestres e de descobrir se sua mãe está viva; e Sokka, de encontrar seu pai.
     Katara possui um gênio muito forte: é sempre quem põe ordem no grupo com seu jeito mandão. Por outro lado, é extremamente carinhosa, e possui um ar particularmente maternal. Em um determinado episódio, ela expõe muito do seu lado psicológico e revela que sua personalidade responsável e prestativa foi construída devido ao fato de ter crescido praticamente sem mãe, e por isso, ter tido que assumir o comando da família. É interessante analisar seu desenvolvimento ao decorrer da história, pois a frágil menininha acaba tornando-se uma poderosa dominadora de água. Torna-se tão poderosa que aprende, contra sua própria vontade, uma sub-técnica muito perigosa da dobra de água: a dominação de sangue, podendo controlar o corpo humano de qualquer um durante a lua cheia.
     Sokka, embora não demonstre, é um personagem muito complexo. Na maior parte do tempo, não leva nada a sério e faz piada de tudo. Seu sarcasmo muitas vezes rende boas risadas a quem está assistindo. A impressão que ele passa nos primeiros episódios é de ser extremamente superficial e infantil. Para a surpresa do espectador, porém, existem alguns momentos em que ele revela seus conflitos internos. Sempre se sentiu um pouco ofuscado pelo grande poder que a irmã possui, e esse sentimento só piora diante de seu modo desastrado de lidar com tudo.

     Zuko. A história de Zuko é um pouco complicada, mas é indispensável para a série. Logo nos primeiros episódios de A:TLA, o moço com rabo-de-cavalo e uma grande cicatriz no rosto aparece em um navio da Nação do Fogo, repetindo muitas vezes: "Eu vou capturar o Avatar e restaurar minha honra!"
  Acontece que Zuko é, na realidade, Príncipe Zuko, pois é o filho mais velho de Ozai, atual Senhor do Fogo. Sendo assim, ele seria o primeiro numa ordem direta a assumir o trono do pai quando este morresse. Seria, se não fosse pelo fato de o jovem ter sido expulso da Nação do Fogo. Durante uma importante reunião militar que participou quando criança, Zuko questionou o pai na frente dos generais, criticando a estratégia de ataque que usava milhares de soldados da nação como "isca" para um ataque maior. Revoltado pela ousadia do garoto, o Senhor do Fogo desafiou o próprio filho para um Agni Kai, um tipo de duelo tradicional da Nação do Fogo. Porém, mesmo com Zuko implorando desculpas e tentando explicar que não tinha a intenção de envergonhar o pai na frente dos generais, Ozai não teve piedade e lutou com seu próprio filho, marcando-o então com uma cicatriz permanente que cobriu quase metade do rosto esquerdo do menino.
     Como Zuko não teve coragem de lutar com seu próprio pai, foi expulso da Nação do Fogo por covardia, e a única condição pela qual o garoto poderia voltar para a casa seria se capturasse o Avatar. Note bem: por mais que houvesse suspeitas de que o Avatar não tinha morrido no ataque surpresa aos Templos do Ar, a probabilidade era mínima. Portanto, era uma condição praticamente impossível de ser realizada. Mesmo assim, o ex-príncipe continuou a desbravar o mundo, obcecado em capturar o Avatar e assim poder recuperar sua honra.
     Embora Zuko seja um habilidoso dominador de fogo, seu orgulho sempre acaba criando problemas e atrapalhando suas batalhas. Seu passado traumático fez com que ele nutrisse um grande ódio de tudo e de todos, e seu modo violento de encarar o mundo só piora sua situação. No entanto, ao decorrer da história, o dominador de fogo vai revelando inconscientemente que, na verdade, é uma pessoa boa. Já na segunda ou terceira temporada (não me lembro ao certo), quando ele finalmente consegue capturar Aang e é aceito de volta à sua nação, percebe que a busca pelo Avatar era o que dava verdadeiro significado à sua vida, e não a suposta reconquista de sua honra. Percebe também que ser recebido de volta por seu pai não era como sempre imaginara: o Senhor do Fogo ficava cada vez mais frio, mais exigente e não tratava Zuko como um filho, e sim como uma arma política.
     Então um poderoso conflito interno se trava dentro do rapaz, onde ele começa a ver o mundo com os outros olhos. De repente, Zuko começa a enxergar as crueldades da Nação do Fogo contra as pessoas. Isso sem falar nas barbaridades cometidas por ele próprio quando estava obcecado pela captura do Avatar. Um crescente nojo de si mesmo começa a apoderar-se de Zuko, e isso o conduz a um doloroso processo psicológico de arrependimento.
     Após decidir reparar os próprios atos, o rapaz cria um disfarce, "Espírito Azul" (com uma máscara azul e sua extraordinária habilidade com espadas duplas) e liberta Aang, sem revelar sua verdadeira identidade. O disfarce dura algum tempo, mas logo Zuko é descoberto e se vê obrigado a fugir, ficando completamente foragido. Deixa o cabelo crescer, começa dar valor ao seu tio Iroh (já vou chegar lá!), e posteriormente tenta pedir perdão a Aang e seus amigos pelas atrocidades cometidas. A princípio, eles acham que isso é só mais uma estratégia do rapaz para capturar Aang (uma vez que, na visão do grupo, quem libertou o Avatar foi o Espírito Azul, e não Zuko), então é preciso provar que ele realmente está arrependido. Depois de várias tentativas falhas (sempre com seu instinto violento atrapalhando), Zuko finalmente consegue entrar para o "Time Avatar", tornando-se o professor de dobra de Fogo de Aang.

Fan-art de Zuko e seu tio, Iroh

     Comentei ali em cima sobre o Iroh, o tio de Zuko que viaja com ele. Tenho que dizer que, de todas as personagens, Iroh é meu preferido. Nos primeiros episódios, é natural que o espectador não dê credibilidade alguma àquele velhinho gorducho e barbudo que acompanha Zuko. Sempre com sua inesgotável calma e sua curiosa apreciação pelos mais variados tipos de chá, Iroh é uma das principais fontes de humor do desenho. Suas falas e ações são completamente inusitadas e é engraçado ver a revolta de Zuko quando o tio se preocupa mais com as atividades mundanas (como apreciar um chá de ervas ou jogar Pai Sho, um jogo de tabuleiro) do que com a captura do Avatar.
     Por que ele é meu personagem preferido? Muito ao contrário do que sua aparência possa sugerir, Iroh foi um dos mais notórios generais da Nação do Fogo. Ele fora um general tão poderoso que acabou recebendo o nome de "Dragão do Oeste" (segundo a lenda, por ter matado o último dragão do mundo, mas essa é uma outra história que não vem ao caso). Seu poder talvez se deva à linhagem sanguínea: Iroh é, na verdade, irmão mais velho de Ozai, atual Senhor do Fogo. Ele seria, de fato, o primeiro em ordem direta a ocupar o trono do Senhor do Fogo quando seu pai, Azulon, morreu. O motivo de isso não ter acontecido só fica claro na última temporada, quando é mostrado um flashback onde ele está para tomar Ba Sing Se (a maior cidade do Reino da Terra, como já comentei, e que também possui a maior e mais forte proteção externa). Iroh tinha tudo pronto para vencer essa difícil batalha, entretanto, recebeu a notícia de que seu único filho havia morrido. Ao contrário do irmão, Iroh tinha uma profunda ligação com seu filho, então a morte deste fez com que o general abandonasse a guerra (junto com suas tropas) e imediatamente voltasse à Nação do Fogo para descobrir o que aconteceu com o filho. Isso, para Ozai — que, mesmo não sendo Senhor do Fogo na época, já era um dos mais influentes generais — configurou um ato de fraqueza e covardia.
     Com a pressão de todo o conselho militar da Nação do Fogo e de seu próprio pai, Azulon, Iroh se aposentou, e essa sua aposentadoria coincidiu com a expulsão de Zuko. Decidiu, então, acompanhar o sobrinho e tornar-se seu mestre de dobra de fogo. Mas qualquer um que assista aos episódios da série pode perceber que o sentimento que Iroh nutre por Zuko é muito mais do que simplesmente o de um mestre pelo aluno. Para o ex-general, Zuko acaba tornando-se o filho que ele perdeu.
     E quando os sentimentos confusos de Zuko e seu modo violento põem o ex-príncipe em situações muito perigosas — ainda mais quando sua imagem é de "príncipe banido" e ninguém o dá o mínimo respeito —, é salvo por seu tio Iroh, que mesmo aposentado continua com sua inabalável reputação.
Infelizmente, a obsessão de Zuko em capturar o avatar faz com que o rapaz se esqueça de tudo à sua volta e, deste modo, não valorize seu tio. Mas como nunca é tarde demais para arrepender-se, Zuko desiste de tentar agradar seu pai, e percebe que a única pessoa que sempre se importou com ele é Iroh.
     Após Zuko passar pelo processo de "evolução mental" (no qual ele se arrepende das maldades cometidas) e ficar foragido, Iroh, que mesmo depois de tudo continua ao lado do garoto, decide começar uma nova etapa de treinamento.
    Assim como existe uma sub-técnica da dominação de água (a dominação de sangue), também existe a sub-técnica da dominação do fogo: o raio. Tanto a criação quanto manipulação de um raio é extremamente complicada e demanda muito esforço. Só os dominadores de fogo tão poderosos quanto Iroh conseguem dominar esta técnica. Porém, não é preciso só força e poder: é preciso paciência e sabedoria. Por este motivo, Zuko leva muitos dias até conseguir realizar um mínimo redirecionamento de raio.
     O que eu mais gosto no General Iroh é justamente que sua verdadeira identidade (a de um poderoso ex-general) só é revelada por volta da última temporada. Antes disso, ele é apenas o tio preguiçoso de Zuko, que é completamente alheio à captura do Avatar. Seria impossível deduzir que aquele senhor barbudo e robusto é tão poderoso. E mesmo nos momentos em que suas habilidades de Dragão do Oeste são mostradas, Iroh continua sendo um senhor sábio e extremamente bondoso. Não é à toa que ele é um membro da Ordem da Lótus Branca, uma sociedade secreta milenar que desempenha um papel importante nos últimos episódios da série.

Fan-art de Toph

     Se as aparências enganam, Toph que o diga. Uma pequena menina cega, dominadora de terra e filha única do casal mais rico da cidade de Gaolin, localizada no Reino da Terra. Naturalmente, a maioria das pessoas a julgam como frágil e inofensiva, contudo, o cuidado excessivo dos pais ajudou a construir na menina uma personalidade que é exatamente o oposto do que poderia esperar-se. Por ser mimada desde criança (e odiar todo esse mimo), Toph desenvolveu um lado extremamente independente. Sob a vigilância constante de seus pais, ela sentiu a necessidade de criar maneiras de sair escondida de casa, a fim de ter um "momento para si". Em uma dessas fugas, a garota acabou escondendo-se nas cavernas, e lá encontrou toupeiras-texugo, criaturas cegas assim como ela, mas que se guiam através das vibrações da terra. Se identificando com o animal, Toph fez das cavernas um frequente destino para suas fugas, e durante os anos convivendo com as toupeiras-texugo, ela desenvolveu habilidades especiais semelhantes às do animal (porém, como é humana, sua técnica era muito mais desenvolvida), sendo capaz de sentir, com o uso dos pés — a ferramenta mais importante de um dominador de terra —, até mesmo os movimentos mais sutis à sua volta. E como é subestimada pelos adversários (pois é supostamente uma "pobre menina cega"), Toph possui enormes vantagens numa luta. Isso sem falar na sua incrível capacidade de realizar ataques de todos os pontos (contanto que o campo de batalha seja de terra ou de pedra, obviamente) e até predizer alguns movimentos do oponente.
     Quando Toph encontra Aang, Sokka e Katara, existe um pequeno conflito no qual os três descobrem a verdadeira identidade da garota durante um torneio de terra e tentam alertar os pais da garota — que não têm a mínima noção da vida "a parte" que a filha leva quando sai escondida. Assim que os pais descobrem a verdade, eles triplicam a segurança de Toph, com a justificativa de que ela é muito frágil para sair por aí batalhando com bruta-montes, e a menina decide, então, fugir com o trio. Isso acaba tornando-se bastante oportuno, pois além de dar a Toph sua tão famigerada independência, Aang ganha um mestre de dominação de terra.
     A personalidade de Toph certamente dá um outro aspecto ao grupo. Sua maneira de agir e de pensar contrasta muito com a de Katara: enquanto a menina da Tribo da Água é carinhosa, politicamente correta e procura sempre resolver as coisas da melhor maneira possível, Toph é extremamente sarcástica, violenta e nem um pouco feminina. Adora criticar, e não poupa ninguém de suas opiniões francas e desafiadoras. Priva a independência acima de tudo. Não suporta a ideia de as pessoas terem pena dela. Nos primeiros dias com o grupo, por exemplo, a dominadora de terra se desentende com Aang, por confundir uma simples gentileza (armar a tenda da barraca) com um gesto de piedade.
     No entanto, em alguns episódios, a humanidade de Toph é ressaltada, e é justamente aí que podemos perceber que ela não é tão "durona" quanto parece. Quando o quarteto estava hospedado na grande Ba Sing Se, por exemplo, Toph revelou a Katara suas inseguranças quanto à própria aparência (por ser cega, não sabia se era bonita ou não). Isso sem falar em alguns raríssimos momentos onde ela, sem querer, demonstra que tem sentimentos por Sokka.
     Por mais que Toph possa parecer, às vezes, um personagem secundário, ela é de suma importância; tanto para o desfecho da guerra contra a Nação do Fogo quanto para gerações futuras. Na segunda temporada, os caçadores de recompensa contratados pelos pais da menina conseguem capturá-la, prendendo-a assim numa estrutura de metal. Carregada de ódio e desesperada para libertar-se, Toph conclui que metal é apenas uma forma purificada de terra. Com muita concentração e esforço, acaba conseguindo dominar o metal que a prende e livrar-se dos sequestradores. É a primeira pessoa da história, portanto, a "inventar" uma sub-técnica da dominação de terra: a dominação de metal.

     Existem muitas outras personagens que também desempenham papéis importantes na história: Appa, o bisão voador (criatura nativa dos Tempos do Ar) que desde filhote é o guia-animal de Aang; Momo, um lêmure voador que o Avatar encontra nos destroços Templo do Ar do Sul; Azula, filha prodígio do Senhor do Fogo Ozai (e consequentemente irmã de Zuko) e uma das principais vilãs da série; Mai e Ty Lee, as duas "capangas" de Azula; Bumi, o rei louco de Omashu, segunda maior cidade do Reino da Terra; os membros do Dai Li, organização secreta formada pela elite dos dominadores de terra para manter a segurança interna de Ba Sing Se; e Long Feng, secretário do rei de Ba Sing Se e líder do Dai Li, responsável por controlar o reino pelas costas do rei.
     O fato é que eu poderia continuar listando e explicando as muitas personalidades que constituem a saga, mas isso seria desgastante tanto para mim quanto para o leitor, então me contento com a explicação das personagens principais.

     Creio ser importante dizer, também, que o desenho possui uma forte influência oriental. A trilha sonora (que é muito bem trabalhada, por sinal), os cenários, as comidas e até os costumes e tradições foram construídos sob um alicerce tipicamente asiático. É essencial ter isso em mente, pois a saga conta com a presença de vários fatores espirituais (o próprio Avatar, por exemplo), e não podemos confundir as ideias espirituais do kardecismo (vertente cristã) com as orientais.

     Mas nem tudo é só ação. Em Avatar: a Lenda de Aang, existe muito humor. Os provérbios populares citados inoportunamente por tio Iroh ou a machista tentativa de Sokka tentar parecer mais forte do que as guerreiras Kyoshi, por exemplo, rendem boas risadas a qualquer um que não esteja de mal com a vida.
     O desenho também é repleto de conflitos amorosos, como os de Sokka (por Yue, princesa da Tribo da Água do Norte e também por Suki, guerreira Kyoshi) ou o de Katara por Jet (personagem secundário que aparece somente em alguns episódios). Isso sem falar na principal incompatibilidade amorosa: a de Aang por Katara. Começa com uma simples "quedinha" e vai ficando cada vez maior, feito bola de neve. O menino tem que lidar, então, com o encargo da guerra e com seus próprios conflitos internos, pois além de Katara ser sua melhor amiga, ele é muito tímido para revelar sua paixão pela garota.

     No entanto, reconheço que às vezes é preciso sair da nossa "zona de conforto" e apontar, além dos pontos fortes da série, os fracos também. Diante da complexidade das diferentes sociedades retratadas em Avatar, é de esperar-se que haja diferentes idiomas, no mínimo um para cada nação. Contudo, creio que seria bastante difícil trabalhar essa questão em um desenho animado, então é compreensível que os produtores tenham decidido não fazê-lo. Ainda assim, é interessante levantar esse ponto de "o que poderia ser melhorado".

     É necessário dizer que, ao contrário do que acontece com muitas sagas, em A:TLA, a história completa não é entregada de bandeja para o espectador. Tudo o que eu expliquei é revelado pouco a pouco durante o desenrolar da série. Isso significa que, geralmente, quem assiste aos primeiros episódios, muitas vezes perde o interesse de continuar assistindo, simplesmente por pensar que o desenho tem dimensões superficiais e que "é para crianças". É exatamente por isso que estou escrevendo esta resenha: para mostrar a real complexidade da saga. Mas não se preocupe: tomei muito cuidado para não estragar a história para quem ainda não assistiu. Garanto que há muitos outros mistérios, conflitos e personalidades que não estão listados nos parágrafos acima.

     Além disso, a série é fruto de um árduo trabalho de muitas pessoas, tudo muito bem estruturado e pensado. Os produtores e roteiristas se reúnem antes da criação de cada episódio a fim de discutir a mensagem na qual o episódio em questão irá ser baseado. Avatar não é algo sem propósito.

Fan-art de Aang, Katara, Sokka, Soph e Zuko (respectivamente), todos já adultos
.
A Lenda de Korra: Livro 1
     A série Avatar: A Lenda de Aang acabou em 2008, mas mesmo dois anos depois, a repercussão era tanta que a Nickelodeon anunciou a continuação da saga, em Avatar: A Lenda de Korra (abreviado como A:LOK, do inglês Avatar: The Legend of Korra), em julho de 2010. Com esforço e dedicação, o canal finalmente lançou o primeiro episódio da série depois de dois anos do anúncio, em abril de 2012 — e ainda assim, após quatro anos da finalização de Avatar: A Lenda de Aang, havia milhões de pessoas ansiosas para assistir à continuação da saga.

Korra (imagens retiradas diretamente do desenho)

     A história se passa 70 anos depois dos eventos de A:TLA, quando o novo Avatar, uma menina da Tribo da Água do Sul (agora já repovoada), é descoberto. Desde criança, Korra é muito talentosa na dominação de água, de terra e de fogo. Suas únicas dificuldades são em relação à dominação de ar e às habilidades espirituais que todo Avatar deveria possuir. Ambas as capacidades requerem um temperamento calmo e obediente, exatamente o oposto da personalidade impaciente de Korra. Na realidade, Korra surpreendeu os espectadores que estavam preparados para um Avatar delicado e feminino: a própria natureza da garota é agressiva e, como a da maioria dos adolescentes, imediatista.
     Após completar seu treinamento de dobra de fogo, a jovem se vê na necessidade de um tutor para a dobra de ar, e o mais qualificado para isso é Tenzin, filho de Aang.

     Com a mesma aparência do pai (careca e com uma flecha na cabeça, características típicas dos dominadores de ar) exceto pela grande barba, Tenzin é o responsável por restaurar a cultura dos monges do ar, repovoando o planeta com os dominadores do elemento (com seus quatro divertidos filhos, Jinora, Ikki, Meelo, e Rohan) e tentando trazer de volta as tradições deixadas por pergaminhos históricos.
     Sua inabalável paciência e sua inesgotável tolerância fazem dele um habilidoso dominador de ar e, ao mesmo tempo, um excelente pai de família.

Tenzin e sua família

     Na companhia de seu leal urso-polar de estimação, Naga, Korra parte em rumo à Cidade República, metrópole e capital da República das Nações Unidas, onde dobradores e não-dobradores do mundo todo vivem teoricamente em harmonia. Digo "teoricamente" pois, quando Korra chega na cidade, ela descobre que esta é infestada de dobradores criminosos que se aproveitam de não-dobradores indefesos. Em poucas horas no lugar, a jovem Avatar combate uma trupe de bandidos, mas acaba fazendo um estardalhaço nas ruas e estabelecimentos e vai presa.
     A força de polícia da Cidade República é uma organização formada pela elite dos dobradores de metal, e chefiada por Lin Bei Fong, filha de Toph Bei Fong (a menina cega que desenvolveu a técnica de dobra de metal em Avatar: A Lenda de Aang).
     Ao ser presa, Korra explica à mal-humorada chefe Bei Fong que é, na verdade, o Avatar, que está na Cidade República em busca de Tenzin, e que só se meteu em confusão pois não suportou ver a gangue criminosa extorquir pessoas indefesas. A amarga dobradora de metal retruca, então, dizendo que só porque Korra é o Avatar, "não tem a liberdade de sair por aí destruindo tudo o que vê pela frente". Por fim, Tenzin é chamado. Ele liberta Korra e se responsabiliza pelos danos materiais que a garota causou. Korra fica aliviada de ter sido livrada das acusações e por ter finalmente se encontrado com seu mentor de dobra de ar, mas sua felicidade não dura muito tempo.

    Como Tenzin é um dos conselheiros do Parlamento da Cidade República, ele anda muito ocupado com alguns problemas graves que vêm surgindo na cidade. Sendo assim, decide adiar o treinamento de Korra. Após muitas tentativas, porém, a menina consegue convencê-lo de que, se Aang estivesse vivo, ele com certeza gostaria que o filho aceitasse a ajuda de Korra para resolver os problemas da Cidade República e, ao mesmo tempo, ajudasse-a com sua dominação de ar.

     Só abrindo um parênteses aqui. Talvez por não haver mais uma guerra entre nações, os conflitos de A:LOK já não são tão rudimentares quanto em A:TLA. Isso causou muita estranheza nos fãs que estavam acostumados com os problemas rústicos (colônias, guerras, refugiados e etc), principalmente no começo. No entanto, considero válido dizer que, mesmo com sua essência alterada, o desenho continua incrível, pelo menos para os fãs que deram uma chance à novidade. Afinal, é importante lembrar que tudo evolui. O tempo não para só porque o "novo" não nos agrada.

Amon e bloqueadores de ki
     O conflito principal em Avatar: A Lenda de Korra se dá por conta de grupos rebeldes anti-dobra (conhecidos como igualistas). Estes grupos realizam diversos protestos contra o abuso que alguns dobradores criminosos realizam sobre não-dobradores. Até aí tudo bem. O problema começa a ganhar dimensões maiores a partir do momento em que alguns participantes extremistas propõem a proibição da dominação de qualquer elemento. A ideia se espalha, então, e em pouco tempo surge uma espécie de revolução.
     A coisa só piora quando Korra descobre que Amon, o mascarado líder dos igualistas, tem o inexplicável poder de retirar as dominações das pessoas. Nisso, desenvolve-se uma guerra civil onde uma grande parte dos não-dobradores recebem treinamento de bloquear o ki (energia vital que possibilita a dobra de elementos) temporariamente. Os conflitos ficam cada vez mais complexos: Tarrlok, o mais influente membro do parlamento da Cidade República, começa uma verdadeira caça aos igualistas, atingindo inclusive os não-dobradores inocentes que não estão envolvidos na revolução.
     Portanto, a garota da Tribo da Água do Sul se depara com a árdua tarefa de conciliar povos dobradores e não-dobradores, cumprindo, assim, o legado deixado por Aang: manter a harmonia no mundo.

Torneio de pró-dobra

     Porém, como em toda história que se preze, o conflito central não é o único núcleo da trama. O enredo de A:LOK também conta com um esporte com regras muito bem definidas denominado pró-dobra. O campo hexagonal (um trapézio para cada time) é dividido em seis zonas delimitadas por linhas de ferro. Cada time possui três jogadores — um dominador de terra, outro de água, outro de fogo. O objetivo é combater os adversários e avançar as zonas. O jogador de água deve usar uma reserva limitada do elemento, que fica sob as linhas de ferro da arena; e para o de terra, existem blocos de pedra espalhados pelo campo (mas também limitados). A arena não fornece ajuda aos dominadores de fogo, pois estes não necessitam de reservas do elemento para criar ataques.
     Ganha a partida o time que mais avançar zonas ou marcar um nocaute (arremessar pelo menos um dos oponentes para fora da arena). Existem também as faltas, que podem ser atribuídas caso haja uso abusivo de violência ou arremesso de jogadores pelos lados do ringue. E a falta é cobrada com um duelo (dentro de uma mini-arena que se eleva no meio do campo) exclusivo entre dois jogadores de mesmo elemento.

     A pró-dobra é muito importante para a série. Além de ajudar Korra com a aprendizagem do elemento ar (aperfeiçoando os movimentos de esquivar-se, necessários para a dobra de ar), graças ao esporte, ela entra no time de pró-dobra Furões do Fogo e ali conhece seus dois melhores amigos, co-protagonistas da história: os irmãos Mako e Bolin.

     Mako é extremamente sério e reservado. Como é um habilidoso dominador de fogo vencedor de inúmeros campeonatos de pró-dobra, é natural que qualquer um o ache um tanto quanto arrogante, principalmente nos primeiros episódios. Contudo, assim como Toph (de A:TLA), Mako usa essa máscara de "durão" para esconder suas fraquezas. Quando criança, presenciou o assassinato de seus próprios pais por um dominador de fogo, e desde então fez tudo o que pôde para sobreviver nas ruas e cuidar de seu irmão caçula, Bolin. Tudo o que restou de seus pais foi o cachecol vermelho com o qual Mako anda o tempo todo.

     Bolin, o dobrador de terra dos Furões do Fogo, embora tão famoso quanto o irmão, é muito diferente deste em inúmeros aspectos. Sua personalidade, por exemplo, é o oposto da de Mako. Na maior parte do tempo, Bolin é bem-humorado, otimista e divertido. Sua maior preocupação é agradar as pessoas, em especial Korra. O moço não vai a lugar nenhum sem Pabu, seu animal de estimação, um furão do fogo (daí o nome do time).

Bolin, Korra e Mako preparando-se para uma partida de pró-dobra

     Além dos conflitos já apresentados, desenvolvem-se também questões recheadas de incompatibilidades amorosas, até mesmo entre as personagens secundárias. Lin Bei Fong, a áspera chefe de polícia, teve um caso com Tenzin há muito tempo atrás, e mesmo ainda possuindo ressentimentos em relação ao dobrador de ar ter a abandonado para casar com Pema, a dominadora de metal deixou isso de lado e arriscou sua própria vida para salvar a mulher de Tenzin e seus filhos.
     Em relação às personagens principais, Bolin nutre uma profunda admiração por Korra, fazendo de tudo para chamar a atenção da garota; ela, por outro lado, tem sentimentos por Mako desde que conheceu o rapaz. Esses problemas ficam ainda mais complicados quando Asami entra na história.

Hiroshi, Asami e Mako

     Filha única do magnata Hiroshi Sato — responsável por revolucionar a Cidade República criando os "satomóveis", engenhosas máquinas muito semelhantes aos primeiros automóveis criados no século XIX —, Asami é uma elegante jovem que conquista o coração de Mako logo à primeira vista. Difere bastante de Korra em diversos pontos: enquanto a jovem Avatar tem um jeito meio "selvagem" (por ter nascido e crescido na Tribo da Água do Sul), Asami é extremamente refinada. Mas não se engane: a milhonária também "põe a mão na massa" quando é preciso. Além de frequentar aulas de defesa pessoal desde criança, ela é de grande ajuda nas aventuras de Korra, Mako e Bolin contra os igualistas.

A Lenda de Korra: Livro 2
    Depois de aproximadamente dois anos em produção, estreou na Nickelodeon no dia 13 de setembro de 2013 o Livro 2: Espíritos de A Lenda de Korra. Desta vez, os criadores Mike e Bryan apostaram todas as suas fichas numa sequência um tanto quanto diferente, ainda que ligada com a história principal.
    Protagonizam agora, junto com Korra, seu tio Unalaq, que é chefe da Tribo da Água do Norte, e seu pai Tonraq, que comanda a Tribo do Sul. Talvez por sua própria natureza ser mais rústica, Tonraq e sua tribo não levam a sério os rituais que acalmam os espíritos ao longo dos milênios. É exatamente daí que surge o conflito inicial: frotas de navios marcantes acabam sendo atacados por espíritos no Sul e Unalaq, profundo conhecedor da misticidade dos espíritos e seus rituais, decide intervir em sua Tribo irmã.
    Diante desta nova missão, são introduzidas várias outras personagens enigmáticas como os gêmeos filhos de Unalaq, Desna e Eska, que cumprem bem o papel de complementar a história para que ela não se torne cansativa. Pode-se citar também Varrick, um magnata muito rico que trabalha no ramo dos navios cargueiros e é de fundamental importância para a decorrência dos fatos, além de ser a fonte de algumas risadas por sua maneira enfadonha de ser.
    Junto disso tudo, o Livro 2 contempla também o passado primitivo da civilização, contando a história de Wan e como ele se tornou o primeiro Avatar de todos os tempos. Essa retratação exigiu um grande envolvimento com o Mundo Espiritual e tornou possível um conhecimento maior por parte dos espectadores desta aventura em determinadas crenças orientais. Em um determinado ponto, inclusive, o desenho elucida a névoa que faz parte da doutrina taoísta, que é algo semelhante ao "inferno" do cristianismo: lá ficam as almas perdidas e enlouquecidas, sendo obrigadas a enfrentarem seus próprios medos para o resto da eternidade.
Raava e Vaatu, respectvivamente Espírito da Luz e Espírito das Trevas
    No entanto, apesar de todos estes pontos interessantes sobre os quais acabei de discorrer, a segunda temporada de A:LOK não seria o tipo de desenho que eu recomendaria a alguém. Os motivos são bastante simples.
    Ao contrário da saga toda, o Livro 2 possui personagens demasiadamente genéricas e pouco humanas. Elas são mecânicas, superficiais, com emoções efêmeras e facilmente dedutíveis, e isso faz com que toda a dinâmica do desenho deixe a desejar. A impressão que o espectador tem é a de que o roteiro foi improvisado, como se a equipe de produção tivesse deixado para última hora todo o trabalho.
    Os conflitos são completamente batidos, coisa que eu não esperava de Bryan e Mike (os produtores), tendo em vista seus trabalhos passados. Por exemplo: a rivalidade principal, entre Tonraq e Unalaq, baseia-se puramente naquela ideia de "irmão que não foi amado o suficiente e agora quer vingança", digno de novela mexicana. Os romances são clichês e tão misteriosamente instáveis que chegam a ser ditados por brigas fúteis e repentinas.
    E como se já não bastasse todos esses pontos negativos, ainda há a presença de machismo no desenho. A personagem Ginger, estrela de cinema junto com Bolin, é a incorporação da típica mulher fútil, vazia e oportunista tanto retratada em muitas outras obras de Hollywood.
    O desenho perdeu completamente sua essência. Isso parece ter sido escancarado desde o primeiro episódio deste Livro, pois muitas personagens foram redesenhadas e até a própria Korra está mais feminina nesta temporada, talvez por não ter atendido aos padrões de feminilidade da mídia. E convenhamos: colocar uma luta de gigantes coloridos num desenho que definitivamente nunca teve esse estilo é chutar o balde. A sensação que eu, particularmente, tive foi a de cair de paraquedas em um desenho completamente diferente. Decepcionante.
A Lenda de Korra: Livro 3
    A apresentação do mistério inicial se dá nos primeiros minutos da terceira temporada, quando Bumi, o irmão de Tenzin que não a princípio não possuía qualquer tipo de dobra, cai de um penhasco e inesperadamente se salva com uma involuntária dobra de ar. O que começa sendo surpreendente — já que, até onde se sabia, Tenzin e seus filhos eram os únicos dobradores de ar do planeta — acaba sendo preocupante, pois outras pessoas que haviam nascido sem quaisquer poderes acabaram descobrindo a dobra de ar da noite para o dia.
    Descobre-se depois que a causa foi a Convergência Harmônica, isto é, a abertura entre o Mundo Espiritual e o Material realizada por Korra no Livro 2. Esta, inclusive, resultou em severos inconvenientes para os humanos, que não estavam acostumados a conviver com os espíritos e tiveram suas cidades ocupadas por eles, ainda que pacificamente na maioria das vezes.
    O modo com que Tenzin, mestre do ar assim como seu pai, lidou a situação foi interessante: a fim de orientar os novos dominadores (que muitas vezes tinham seus poderes fugindo ao controle), decidiu recebê-los em um dos Templos do Ar e, ao mesmo tempo, empenhar-se para restaurar cada vez mais a cultura dos monges que um dia lá viveram. No primeiro episódio, o homem revela seu lado mais profundo e chora em frente aos seus filhos, pois deseja que seu pai estivesse vivo para presenciar esse momento; decerto, significaria muito para Aang ver seu próprio filho reconstruindo a cultura milenar dos monges do ar.
    Durante certo período Korra enfrenta o desafio de conciliar a convivência entre humanos e espíritos e suportar à pressão das pessoas, as quais depositam toda a responsabilidade sobre as costas da garota, justamente por ela ser o novo Avatar. Este conflito talvez possa ter tomado mais tempo do que seria relevante para a trama, mas é importante ver Korra passando pelos mesmos problemas pelos quais Aang passou quando teve todo o encargo para si. Numa cena emocionante ao por do sol, ela pede um conselho a Tenzin e o sábio monge afirma: "A verdadeira sabedoria começa quando aceitamos as coisas como elas são. Você começou uma nova era, Korra, e não há mais como voltar".

    O verdadeiro conflito principal se revela quando um homem de cabelos grisalhos e compridos, trancado numa prisão de máxima segurança pela ordem secreta da Lótus Branca, também adquire a dobra de ar devido à Convergência Harmônica e surpreende os guardas, conseguindo escapar. Seu nome é Zaheer e, com seus outros três comparsas — que estavam trancados em outras prisões de altíssima segurança, até ele resgatá-los — também dominadores de elite, um de cada um dos três elementos restantes, participa de uma outra ordem, denominada Lótus Vermelha.
    Esses quatro criminosos passam a maior parte do Livro 3 tentando capturar Korra, como acontece em qualquer enredo típico da mocinha perseguida pelos vilões. No entanto, para a surpresa dos telespectadores, existe por trás desta perseguição algo muito mais complexo.
    A Lótus Vermelha se desmembrou da Lótus Branca pois esta última, após vencer a Guerra dos Cem Anos [contra a Nação do Fogo, em A:TLA], "perdeu seu verdadeiro propósito, uma vez que seus membros saíram do anonimato e serviram de forma submissa às nações corrompidas", nas próprias palavras de Zaheer, em tradução livre. O recém dobrador de ar se refere às estruturas de poder legitimadas mesmo após a guerra: o Reino da Terra, com sua sede na poderosa cidade de Ba-Sing-Se, continua sendo uma monarquia cuja rainha é tirana e abusa da população; as Tribos da Água permanecem com sua estrutura hierárquica e tradições antigas; e mesmo a Cidade República, criada por Aang, possui muita corrupção, como mostrou o Livro 1.
    A desenvoltura política de A Lenda de Korra demonstra assemelhar-se cada vez mais à que existia em A Lenda de Aang, pois ela consegue ficar ainda mais complexa: Zaheer não só deseja acabar com a condescendência da Lótus Branca em relação aos moldes cristalizados de poder tirânico, como também afirma que a Lótus Vermelha rejeita qualquer tipo de autoridade, governo ou nação. Respalda sua missão em um discurso anarquista muito forte; afirma que "a verdadeira liberdade só pode ser atingida quando os governos opressores forem derrubados", referindo-se, no entanto, a absolutamente todos os governos. Korra contrapõe e não aceita esta ideia, dizendo que isso provocaria caos e desordem; a resposta de Zaheer é que estes elementos fazem parte da harmonia universal.
    Apesar da radicalidade que permeia os ideais dos membros da Lótus Vermelha, é extremamente interessante observar que existe uma grande coesão que diz respeito ao cenário político da série. No episódio 10, o meu favorito de toda a saga A:LOK, Zaheer se recusa a obedecer os agressivos mandamentos da cruel rainha do Reino da Terra e esta ordena que seus guardas do Dai Li aprisionem-no. O vilão (que começava a deixar os espectadores em dúvida se era, de fato, o vilão) e seus amigos acabam com os membros do Dai Li em uma questão de segundos e, sob a ameaça da tirânica ditadora ("Você não ousaria atacar uma rainha!"), Zaheer tira o ar do pulmão dela, envolvendo-o em volta de sua cabeça e dizendo: "Eu não acredito em rainhas", seguido da frase mais épica de todo o desenho:
"Você acha que liberdade é algo que você pode dar ou tirar por mero capricho. Mas para o seu povo, a liberdade é tão essencial quanto o ar: sem ela, não há vida. Há apenas escuridão."



    Ao contrário do Livro 2, que deixou muito a desejar, o Livro 3 surpreendeu os espectadores, pois abandonou o romantismo clichê e previsível para dar espaço a uma complexidade psicológica maior às personagens e para retomar determinados elementos de Avatar: A Lenda de Aang, como a dobra de metal, que foi aperfeiçoada, propagada e homenageada na cidade de Zaofu, feita inteiramente do material, repleta de obras arquitetônicas grandiosas e fundada pela própria filha da Toph, sendo a mãe monumentalizada por desenvolver essa subtécnica da dobra do ar quando jovem.
    A participação de Zuko, já velho, também contou muitos pontos com os fãs da série, demonstrando sua sabedoria ao aconselhar Korra sobre o que Aang teria feito em seu lugar, bem como seu lado sentimental, ao emocionar-se quando descobriu que a jovem Avatar conversou com seu tio Iroh no Mundo Espiritual.

   O único ponto negativo desta temporada foi a falta de verossimilhança em determinados momentos de combate; os protagonistas pareciam insignificantes ao enfrentarem seus oponentes, tanto no que se refere ao Dai Li quanto aos próprios membros da Lótus Vermelha. É compreensível que isso ajude na criação de um conflito maior que consiga prender mais o espectador, porém, esse desequilíbrio de forças entre oponentes revelou uma certa ausência de criatividade por parte dos roteiristas.
    Ainda há muitas outras coisas novas sobre as quais discorrer, como a exclusiva subtécnica da dominação da terra — a dominação de lava —, o reencontro de antigos familiares por parte de algumas personagens, e até mesmo a exploração do psicológico de personagens que tiveram seu lado humano evidenciado retomando passados traumáticos, como é o caso da chefe de polícia Lin Bei Fong.

A Lenda de Korra: Livro 4
    O Livro 4: Balance (em português, algo próximo a "Equilíbrio") é o último da série. Durante os primeiros episódios, a realidade pós-traumática — decorrente do mal físico e psicológico que Zaheer lhe causara no Livro 3 — de Korra revelou seu lado frágil. A garota impaciente e durona de sempre parecia, de repente, despida toda a coragem e determinação. Apesar da ressalva que receio ser necessária a respeito de esta retratação ter tomado tempo demais, tornando assim os primeiros episódios extremamente monótonos e cansativos, é inegável que esse estado de espírito de Korra remeteu a Aang e às vezes que o pequeno menino se viu fadado a carregar o peso do mundo nas costas. Embora sutil, esta relação entre Korra e Aang ajuda a reforçar a ideia de que um é, na verdade, o outro, destacando o ciclo Avatar e, mais, pressiona na tecla de que crises emocionais são naturais e, numa análise mais arriscada, necessárias para o processo de formação da responsabilidade.
     Após ser dominada por inúmeras alucinações advindas de seu estado de perturbação mental e espiritual, Korra é atraída para O Pântano, lugar altamente misterioso e espiritual. Como uma espécie de elucidação ao planeta Dagobah de Star Wars, algo na natureza daquele ambiente chamou Korra, que, em vez de encontrar Yoda, acabou encontrando Toph. A dominadora de terra cega, apesar de ter agora uma idade avançada, parecia ter mudado muito pouco ou quase nada: continuava com sua simplicidade comicamente grotesca que conquistou o coração de tantos fãs em A:TLA. Tanto Toph quanto o próprio pântano, cuja capacidade é fazer cada um enfrentar seus próprios medos (outra semelhança com Dagobah), deram suporte para que Korra superasse a crise e se reconstituisse física e emocionalmente.
     O tchan do Livro 4 claramente se dá com o surgimento de uma nova vilã. Kuvira é uma habilidosa dobradora de metal que recebe poder temporário para criar estabilidade no Reino da Terra, que estava absolutamente caótico após Zaheer assassinar a rainha no Livro 3. No entanto, sua ambição foi tão grande que fez com que ela desse um golpe de Estado e tomasse o poder, autointitulando-se como A Grande Unificadora do agora chamado Império da Terra.
    Novamente, se há algo indiscutível a ser elogiado em A Lenda de Korra é, definitivamente, a desenvoltura política. O primeiro livro girou em torno de Amon e sua imposição de uma igualdade brutal (socialismo); o segundo, em torno da guerra civil de motivações religiosas entre os irmãos Tonraq e Unalaq e suas respectivas Tribos da Água (teocracia); o terceiro, em torno da rejeição pregada por Zaheer e pela Lótus Vermelha de qualquer autoridade (anarquia); agora, a questão se pauta na centralização de poder nas mãos autoritárias de Kuvira (totalitarismo, aproximando-se também de um fascismo militarista).
    A princípio, não é difícil acreditar nas boas intenções da ditadora. Ela parece, de fato, estar disposta a amparar a população carente. No entanto, seus discursos de "restaurar a ordem a qualquer custo" acabam sendo suspeitos demais e o resultado, bem, basta conhecer um pouco de História para deduzi-lo. O Império da Terra passa a ser moldado por um forte militarismo, com "campos de disciplina" para presos políticos, atropelando qualquer oposição com o uso arbitrário da força.

    Como já foi dito nesta longa resenha, é muito complicado comparar A Lenda de Aang (A:TLA) com A Lenda de Korra (A:LOK), especialmente porque sempre haverá um certo apego ao primeiro desenho, que marcou a infância e a adolescência de muitos de nós. Todavia, apesar da inevitável parcialidade da qual partilho, sinto-me na obrigação de apontar as diferenças gritantes entre esses dois desenhos, principalmente a partir do Livro 2 com os gigantes coloridos, em cujo mérito não entrarei novamente. Os que encararem A:LOK como uma extensão do desenho antecessor se decepcionarão, pois o conteúdo, o humor, o zeitgeist (ou espírito de época) e a própria natureza dos conflitos mudam radicalmente. A Lenda de Aang é insubstituível, e precisamos conformarmo-nos com este fato. Mas isso não torna A Lenda de Korra algo necessariamente ruim, especialmente tendo em vista as suas tramas antagônicas que foram tão elaboradas que abordam conceitos de teoria política.
    A única restrição mais grave que faço é que, em A:TLA o tempo parecia ser melhor aproveitado, enquanto que, em A:LOK, os vinte minutos de cada episódio são sempre insuficientes, seja pela tão chamada enrolação por parte dos produtores, ou mesmo por falta de complexidade e profundidade na história. Ou talvez seja só uma impressão exclusivamente minha, sobretudo por sua subjetividade, então reservo aos leitores o direito de discordar.
    Ademais, vale muito a pena asssitir. Ainda que à sua própria maneira, tanto A Lenda de Korra quanto (e sobretudo) A Lenda de Aang são desenhos dos quais você jamais se esquecerá. É triste concluir tamanhas considerações com apenas esta frase de efeito, mas o fato é que não há muito o que falar quando a qualidade dos desenhos fala por si só.

Agradecimentos a Pedro Felipe e a Daniel Reis por revisarem o texto.