Não costumo falar a respeito de política partidária porque, de um ponto de vista pragmático, estas discussões raramente passam de discursos vazios, cegados pelas paixões ideológicas. Apesar das romantizações da democracia teórica, é de conhecimento geral que esta mesma democracia foi solapada pelos grandes candidatos, que pegam carona no financiamento privado e fazem seu sucesso no ventre da ignorância e do desespero da população. Ao cabo, o que resta é apenas um jogo sujo entre máfias, ditas partidos, que se ancoram na ingenuidade fervorosa das pessoas, de modo a sobrar pouca ou quase nenhuma razoabilidade a ser solo de qualquer tipo de discussão produtiva. Assim, abro aqui neste texto uma exceção no compromisso que firmei comigo mesmo de não abraçar este tipo de assunto — decisão que tomei para evitar ainda mais amarguras em vão — pois partilho do sentimento generalizado de que o país está passando por um cataclismo político, não sendo este, portanto, o melhor momento para nos resguardarmos ao silêncio.
É claro que, da mesma forma, é um grave equívoco advogar cegamente pela inocência de figuras políticas envolvidas em casos de escândalo global. A resposta da enquete continua devendo ser necessariamente "não sei", pois, de fato, não há como saber. A isenção premeditada de culpa — ou seja, afirmar de antemão que tais indivíduos são inocentes, bem como manifestar-se contra a investigação destes — é algo que se isola numa ingenuidade frágil e quase obscena. Já disse isso em diversos textos (como nesse e principalmente nesse), mas por vezes é preciso reiterar o óbvio: os pontos positivos de um governo não podem jamais ser usados como escudo a críticas. O Partido dos Trabalhadores (PT) não está imune às investigações apenas porque melhorou substancialmente a qualidade de vida de boa parte da população que antes se encontrava na miséria. Uma coisa não anula a outra; é preciso saber ponderar e reconhecer os lados bons e ruins de um governo com a seriedade que este tipo de análise exige.
Ademais, a abissal falta de credibilidade do partido mencionado não se dá majoritariamente pela "angústia que os ricos têm ao ver a ascensão de outras classes"; esta é uma resposta simplista e, mais do que isso, uma nítida falácia do espantalho. É, na realidade, fruto de uma descrença que contamina todo o sistema eleitoral por conta de uma alarmante crise de representatividade. As ruínas da velha política estão à mostra e os projetos de poder pelo poder ficam cada vez mais evidentes. É algo que se alastra por todos os partidos e por todos os âmbitos do poder. O PT encabeça essa desilusão política em razão da enviesada necessidade humana — incorporada sobretudo às massas — de associar determinados fenômenos a figuras políticas, principalmente as que ocupam o cargo mais importante da nação: a presidência.
Desfazer essa ideia infantil de que o PT é responsável por todo o mal do Brasil é vital para o comprometimento com a lucidez do debate político, mas é algo que tem sido feito de uma forma consideravelmente porca. Apontar a crítica seletiva da população e do oligopólio midiático se faz indispensável nessa árdua tarefa de combater a paranoia conspiracionista que tem se tornado o antipetismo; no entanto, se há respeito à honestidade intelectual, isto não deve ser conduzido pela lógica que exime o PT apenas porque a corrupção não é exclusividade sua. A incoerência deve ser obrigatoriamente combatida, mas de modo a submeter à crítica social e à justiça institucional absolutamente todos os partidos e indivíduos, independentemente de seus alinhamentos políticos. O PT não deve ser exceção: nem para ser integralmente culpabilizado e muito menos para ser isentado.