A apaixonite te arrasta para um abismo de extremos. Ou você está muito feliz ou muito triste. Se culpa o tempo todo por bobagem; detalhes com peso de palito de dente parecem âncoras aos seus olhos. Muito desgaste emocional. Você constrói, sem querer, uma imagem mental da pessoa (que às vezes não tem nada a ver com a pessoa de fato) e, ainda que deteste Platão, fica tecendo no mundo das ideias um futuro que provavelmente nunca terá.
As noites de frio fazem você notar e sentir um vazio, uma solidão, que antes não estavam ali, e que agora precisam ser preenchidos. Uma noite ou duas sem pregar os olhos; quando muito, mal dormidas. Parece cocaína, como já dizia Renato Soviético. Você não consegue entender o que sente, e, quando tenta, se vê como um idiota. Sim, a razão também lhe foi roubada. Não é capaz sequer de escrever um texto uniforme; usa primeira e depois terceira pessoa, numa bagunça só, tal como sua mente.
Onde aperta pra parar? Pra começo de conversa, não pedi isso. Quando vim ao mundo, não assinei meu nome em lugar nenhum. Carimbo do pézinho não conta. Precisa rever isso aí; achar uns culpados, pedir indenização por uns danos morais. Não nasci pra isso. Não, não, não. Me recuso. Agora, a única saída é usar toda essa tempestade mental como combustível literário; pelo jeito, essa é a minha sina. E também a de todos os outros que um dia cometeram o deslize de permitir-se ser humano.