Carpe diem
na prática

    Frases prontas de bom-dia ditas no rádio durante o horário matinal não me são suficientes. Palavras carregadas de pieguice, usadas somente para agradar os ouvidos de quem as ouve, sem no entanto passar por qualquer digestão reflexiva, não enchem barriga. São como aqueles xaropes de marca barata que adoçam nosso paladar por um instante e, ao que nos damos conta, sobra apenas um gosto amargo de algo que foi mais vão do que deveria ter sido.
    Tenho um quê com a modernidade. Não me entenda mal: como exímio membro da geração Z, seria hipocrisia e talvez até ingratidão não admitir que as novas tecnologias fizeram parte de minha formação. No entanto, amargura-me ainda mais o paladar ver como as pessoas costumam contentar-se com coisas tão vagas. Quem nos dera que metade dos selfies contendo como legendas frases aleatórias de biscoito da sorte fosse posta em prática.
    O que faz com que as palavras sejam algo maior que meras letras enfileiradas? A absorção real de seu sentido. A banalização desta faz com que mensagens realmente importantes se percam, juntando-se ao conjunto de máximas populares preconcebidas tão vazias quanto o niilismo de Nietzsche.
     Perceba que não estou instaurando aqui uma vigilância virtual. Não é necessário que sejamos a Rainha de Copas e demandemos que "cortem a cabeça" dos que eventualmente compartilharem músicas apenas porque estas são agradáveis — e não necessariamente por possuir um sentido profundo. Cada um é livre para manifestar-se como melhor achar. Proponho apenas que coloquemos a mão na consciência antes de fazer uso de frases tão fortes em situações de dimensão leviana, de modo a darmos um basta nestes espetáculos chafurdados em superficialidades e dramas desnecessários.
    Em vez de pregar frases cujos verbos sequer conseguimos conjugar adequadamente, dizendo vagamente o quão lindo está o dia (apesar de mal ter olhado para o céu), que tal distribuirmos sorrisos no parar do semáforo? Um genuíno "muito obrigado" a quem prepara sua comida? Ou, ainda mais raro, um "como você está?" realmente interessado na resposta?
    De nada adianta fazermos politicagem nas redes sociais e desejar que o dia de todos seja ótimo, se, minutos depois, passamos pelo porteiro de nosso prédio como se sua existência fosse insignificante. Lero-lero não faz o mundo girar. Atitudes positivas o fazem.