Chave

Já dizia Clarice
Não a ruiva, de papel
Mas a que antes foi de carne,
osso e pensamento
E que hoje é só osso e pensamento.

Já dizia-me ela,
a Clarice do meu eu
lírico, interior:

"Por que te importas?
Que te importas?

Cá estou aqui,
tênue linha do real e do irreal.
Pois que ainda assim
Tens em mim e somente em mim
a resposta."

Busco conforto, sim
Mas busco antes compreensão
E sobretudo reconhecimento
Dos que serão, um dia
portadores da chave.

A dúvida, portanto
Ressoa como as poderosas engrenagens
Em cujo ruído fora aberta.