O problema da direita/esquerda no Brasil

    Seja nos fóruns de discussão, nos comentários das redes sociais ou nas opiniões dos assíduos leitores dos sites de notícias, dez minutos de leitura são suficientes para que qualquer um com um mínimo de clareza política se estresse.
    Ainda que a situação do Brasil se deva a um contínuo processo histórico de alienação da população — no sentido etimológico da palavra, de "tornar alguém alheio a algo" — e de uma desesperança política crônica causada pela falta de integridade e de transparência dos que elegemos, a maioria das pessoas continua insistindo em discutir com todo ímpeto questões puramente ideológicas. E pior: isso está quase sempre ligado a um maniqueísmo extremista e, por mais redundante que possa soar, burro. Ou é direita, ou é esquerda. Se é assim que os brasileiros enxergam, discutamos então sobre esses dois lados.
    A direita é conhecida de longa data por argumentar com teorias conspiratórias ("Golpe comunista de João Goulart!"), por radicalizar o discurso do adversário político para deslegitimá-lo e por ignorar as mazelas sociais atribuindo a elas um caráter imaginário, como se fossem "espantalhos da esquerda". Isso quando não fazem uso das falácias ad hominem, o que, convenhamos, requer menos esforço cognitivo do que elaborar argumentos válidos.
    Já a esquerda costuma enfiar os pés pelas mãos ao tampar os olhos para a precariedade política e isolar-se num mundo fantasia onde algumas medidas assistencialistas são suficientes para compensar toda a falta de estrutura e oportunidades que a população carente continua enfrentando. É importante lembrar, queira a esquerda ou não, que só porque um governo é supostamente "o mais popular da história nacional", isso não significa que este governo esteja automaticamente isento de críticas. Alianças com a bancada ruralista e a obediência às chantagens da bancada evangélica continuam existindo, e ressaltar estes fatos não faz ninguém "coxinha".
    Claro, falta ponderação. É em tempos como este que a ausência de difusão de informação grita: o brasileiro tem o péssimo hábito de jogar todo o encargo para a principal figura de seu Executivo, o presidente. No entanto, é importante lembrar que a administração dos recursos referentes à educação — com exceção das universidades — e à saúde pública, bem como de muitos outros setores fundamentais ao desenvolvimento da sociedade, compete à esfera Estadual ou à Municipal. É por esta razão, dentre muitas outras, que o dedo deve pesar com consciência em absolutamente todas as vezes que este tocar a urna, não somente para eleger os presidenciáveis.
     Parcialidade sempre irá existir, seja por simpatia a determinada ideologia ou algo do gênero. No entanto, não devemos cair no erro de usar verdadeiros cabrestos ideológicos. Além disso, uma discussão só pode ser promissora a partir do momento em que os participantes lembram que não são crianças e que deselegâncias gratuitas não ajudam em nada.
     A fórmula para a construção ideal de um modelo democrático reside no constante questionamento do status quo, na humildade em aceitar ou rejeitar ideias diferentes das suas — sob a luz do senso crítico e da ponderação — e na maturidade em levar uma discussão sem picuinhas desnecessárias.